O verdadeiro louco é aquele que não tem consciência de sua loucura”
Neste dito popular pressupõe-se a existência de dois tipos de loucura: uma mais amena, um mal consciente – “de louco todo mundo tem um pouco” – a outra, essa sim loucura de fato, é uma espécie de deficiência física que independe da vontade do individuo, capaz de embaralhar os sentidos e impedir o acesso ao convívio social. Nas duas formas de loucura, subjaz uma forma de percepção que não se encaixa ao que é aceito pela maioria da população, àquilo que não é normal. Se normal fosse cagar em pé, cagar sentado seria um ato de pura loucura.
Como diria Lewis Carrol, em um trecho de Alice No País das Maravilhas: “Não interessa se você acha certo ou errado, quem manda sou eu”. A normalidade é uma questão de ordem. Não há espaço para a subjetividade a menos que sua língua tenha sido mutilada e esteja enclausurada nos cantos mais obscuros e impenetráveis do seu crânio. O normal então é, de acordo com a frase que inicia o artigo, alguém que tem consciência de que aquela voz em sua cabeça não é normal, é uma loucura “aceitável”.
A loucura nem sempre foi encarada como uma anormalidade a ser extirpada da sociedade. Para os antigos como os atenienses de 400 aC; alguém que não se comporta como o restante do trato social, seria no mínimo um excêntrico e no máximo, uma pessoa dotada de uma capacidade extrasensorial, seja por graça divina ou por poder vislumbrar, no entendimento de Platão por exemplo, a Verdade.
Pode-se fazer diversas conjecturas do porquê dessa concepção ateniense do ‘anormal’. Seria a mitologia a razão dessa percepção filosófica? Ou o contrário? Irrelevante. Diferentes pessoas pensavam diferente em diferentes tempos. A pergunta a ser feita aqui é o porquê de a loucura ter se tornado para a cultura ocidental um “não-lugar”.
De acordo com Thomas Hobbes, todos nós assinamos uma espécie de contrato social ao nascer. Neste contrato, o cidadão aceita obedecer às regras da sociedade. Do outro lado, o Estado se compromete a zelar por essas regras, ou seja, garantir que cada um vai cumprir com sua palavra. O louco seria alguém incapaz de ser um cidadão por não poder assinar o contrato social. Strike one.
Intrigante pensar que o louco não é capaz de assinar o contrato, porque em verdade nenhum de nós o assinou. Alguns devem estar a rir disto. Prosseguirei. Se o contrato é imaginário, não passa de uma metáfora, então por que existem pessoas presas? Porque o contrato social existe de fato. Os presos são infratores dessas normas. Esses infratores têm consciência de seus atos e correrão quando ouvirem a sirene policial. O contrato (que pode ser entendido como a Constituição, os costumes, tradições, etc) antecede nossa capacidade de ler e escrever. No entanto ao infringir suas normas veremos nossa assinatura lá. O louco não pode vê-la. Ele não questiona sua veracidade, ele simplesmente não reconhece o contrato social. Strike two.
Existem pessoas que sofrem de distúrbios psicológicos capazes de embaralharem toda sua noção existencial. Estes são loucos e vamos chamá-los daqui por diante para efeitos didáticos de louco tipo A. Existem pessoas que sabem que sofrem de distúrbios psicológicos capazes de embaralharem toda sua noção existencial. Esses últimos… depende. Ele dá voz a sua loucura? Se sim, é louco e esses serão chamados de loucos tipo B. Mas os loucos do tipo B são capazes de verem sua assinatura no contrato social. Mas louco não é aquele que é incapaz de se reconhecer no contrato social? Strike tree e você está fora.
A teorização da loucura é tão imprecisa em sua definição quanto o seu objeto. Ela não é natural. Parte de uma demanda artificial criada por uma cláusula em letras minúsculas no último parágrafo do Contrato Social dos Homens Ocidentais que diz: Tudo aquilo que não puder ser entendido deve ser louco. Nas entrelinhas ele diz: Cuidado, o louco não consegue reconhecer a legitimidade deste contrato. Nas entrelinhas das entrelinhas o tom se torna alarmante: É da máxima importância impedir que os “normais” questionem a veracidade deste contrato!
Na civilização grega antiga não havia por que se preocupar com os não-cidadãos. Estes eram escravos e mulheres. Estavam submetidos à Ordem. Os loucos tipo B que ousavam se revoltar contra o sistema eram executados em praça pública. Imagine um esparciata recusar a farda? Ou um cidadão ateniense a democracia da pólis?
Na Europa Medieval o contrato era com Deus, desde que se obedecesse a Ordem Divina não havia problemas. Aqueles que não o fizessem seriam mortos sumariamente.
O problema da forma como foi construída a sociedade liberal ocidental é seu pressuposto de universalidade. Fazer com que todos e qualquer um independente de credo, status social, cor ou etnia, assinasse o contrato para a manutenção da Ordem Racional num momento de explosão demográfica por conta da expansão urbana. Essa idéia de que a racionalidade é a linguagem universal inerente ao ser humano nasceu no movimento conhecido como Iluminismo, época em que os homens estavam deslumbrados com a capacidade aparentemente infinita do desenvolvimento pelo conhecimento. A sociedade liberal ocidental construiu-se a partir daquilo que nos diferencia do restante dos animais, a racionalidade, meio pelo qual todos os homens poderiam conviver em harmonia.
Como inserir então um ser humano que é irracional, os loucos tipo A?
O primeiro passo foi A Busca da Cura ainda no séc. XVIII, onde se tentou reintegrar o louco ao seio da sociedade, pois entendia-se que este sofria de uma doença que o impedia de organizar os pensamentos corretamente. A cura era uma questão de tratamento correto.
O seguinte foi A Descoberta da Impossibilidade, nesse thriller descobriu-se não só a incapacidade de abrigar todo ser humano sob a égide da racionalidade, mas muito mais que isso. Pelos idos de 1910, talvez, a sociedade liberal ocidental tenha feito sua maior descoberta. Oferecendo-nos uma contradição ímpar, porque foi justamente o modelo institucional que pregava a Razão como a Linguagem Universal aquele que revelou a mais pura das características humanas: a imprevisibilidade.
Mas, e agora? O que fazer? Como legitimar anos e anos de procura incondicional pela Verdade, aquilo que une a todos nós, quando o homem em sua essência estava pouco se lixando para ela? Tudo que fora feito até ali deveria ser descartado para se começar de novo, do zero? Não. A imprevisibilidade era somente um fator dentre tantos outros da equação humana, só precisava-se encontrá-lo, separá-lo em suas variantes e resolvê-lo.
A Imprevisibilidade foi então encarada como uma falha e não como uma característica humana. Foi a compreensão dessa anomalia que resultou na elaboração do curioso Fator de Imprevisibilidade. O que seria a característica mais essencialmente humana, era a chave para a celebração universal do Contrato Social dos Homens Ocidentais. Era acrescentada a Última Cláusula. O fracasso iluminista do ser humano como um ser racional seria, de agora em diante, a válvula de escape para inserir todo aquele que evocasse sua imprevisibilidade, sejam eles loucos ou não. Strike four e você pode voltar.
O primeiro grande acontecimento que podemos listar do naufrágio do Homem Ilustrado veio cataclísmico em 1789. Ao tentar fazer com que todos assinassem a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a revolução francesa implodiu. A idéia iluminista de igualdade entre os homens ia ao encontro de toda uma tradição medieval de Ordem Natural das Coisas. O contrato teve de ser suspenso. Alguns anos antes, praticamente o mesmo contrato tinha sido assinado sem problemas por todos os cidadãos estadunidenses. Por que a diferença? Numa análise rápida, os lideres da independência – conscientes disso ou não – seguiram a lição deixada pelos gregos, salvaguardaram do privilégio de ser cidadão uma boa parcela da sociedade. Os loucos aqui ainda não eram problema. O grosso da população morava no campo bem distante de qualquer sanção do Estado. Na Inglaterra os ideais iluministas não confrontaram a Ordem Natural diretamente, também se soube preservar certos privilégios.
Se o séc. XVIII foi o marco dessa tentativa de unificação da sociedade, o séc. XIX foi aquele que mostrou como fazê-lo. A impossibilidade de cura do louco e sua incapacidade de reconhecer o contrato social constituíam a fórmula perfeita para enquadrar todo aquele que transgredisse o contrato social. A genialidade da resolução do problema constituía em unir os loucos tipo A e B em uma só categoria: o tipo AB. É de suma importância para o entendimento da equação descrita mais adiante, destacar que o infrator não está na mesma categoria que o transgressor.
A infração está descrita no contrato social como algo aceito dentro dos direitos dos cidadãos. Você tem o direito de infringir a Lei sabendo que suas ações resultarão em conseqüências que vão desde multas à privação da liberdade de ir e vir ou mesmo, em algumas culturas ocidentais, a pena de morte. O infrator burla algumas leis. O transgressor as destrói completamente. O exemplo mais famoso é Jesus Cristo. Este homem desafiou o contrato social romano e judeu quando decidiu romper com a Ordem Natural das Coisas do mundo.
Autointitulava-se Filho do Homem e dizia-se dele que alegava ser o Messias prometido pelo Velho Testamento. Louco. Não por pensar (tipo B), mas por agir (no entendimento pós-iluminista, o tipo AB). Foi quando Jesus decidiu encarnar sua “loucura” que ele virou um transgressor. Na maioria dos contratos sociais antigos baseados na Ordem Natural das Coisas, como a Torá por exemplo, não havia espaço para alguém que ousasse questionar a Ordem Divina. No entanto o Estado judeu tinha sido destruído pelos romanos, não havia autoridade legítima para poder fazer valer o contrato. Os romanos não reconheciam Jesus como um cidadão, nem sequer era romano. Ele era antes de tudo um problema dos judeus e como tal, devia ser resolvido por eles de acordo com uma cláusula do Contrato Romano que pregava o zelo pela cultura dos povos submetidos como a melhor forma de manutenção do poder. Mas se as idéias de Jesus fossem só rebeliões contra o contrato judeu o calendário ocidental não começaria no Ano 1 dC.
Jesus ocupou um Hiato aberto pela ausência do Estado judeu e pela cultura romana de não interferência em questões internas dos colonizados. Cristo ousara escrever um novo contrato social que em seu primeiro parágrafo dizia para amar ao próximo como a si mesmo. Transgressão maior não havia tanto para os judeus que se viam como o povo eleito como para o Império Romano que escravizava milhares e milhares de pessoas. A História conta que Jesus foi crucificado. O resultado disso foi devastador. A ausência da cláusula da loucura que dizia nas entrelinhas das entrelinhas das entrelinhas que matar podia chamar ainda mais atenção para o fato de ninguém ter de fato assinado o contrato social foi crucial para elevar Cristo ao patamar de mártir, com o inacreditável agravante da sua imprevisível paixão ao se entregar aos tormentos da morte romana. Ao enfrentar de cabeça erguida os injuriosos costumes romanos de execução, Cristo enlouqueceu tantas cabeças e inflamou tantos corações quanto estrelas há no céu.
Cristo é o exemplo maior e mais sintomático dessa imprevisibilidade do ser humano, embora possamos citar facilmente centenas de outros notáveis nessa mesma linha como São Francisco ou mesmo Sirdharta Gautama. A questão que se faz presente é a quantidade dos que não podemos contabilizar. Daqueles que nasceram à margem da sociedade e foram transgressores, tais como Jesus. E inseridos na Última Cláusula do Contrato Social dos Homens Ocidentais desapareceram. Hipocrisia se preocupar com os loucos desaparecidos da História quando até esta altura do artigo pelo menos cinco chineses morreram asfixiados em desabamentos de minas de carvão? Minimizando o fato, eles constarão como números em estatísticas e, creio eu, contribuirão para que um dia menos mineiros morram asfixiados futuramente, nem que seja só em parte da China. Suas assinaturas constam no contrato social e, mais dia menos dia, serão atendidos em seu direito à vida.
Este texto se propõe a problematizar a questão da supressão da subjetividade em nossa sociedade e, consequentemente, desses milhares de esquecidos.
Um exemplo atual é Estamira. Um diretor desconhecido do grande público decidiu acompanhá-la por alguns anos e gravar um pouco do seu cotidiano. Estamira sofre de algo que não pode ser curado (se é que precisa de cura), que desorganiza seu receituário de significação das coisas. Ela pode ver sua assinatura no Contrato Social dos Homens Ocidentais, logo ela é uma louca do tipo B, mas ela chega a representar perigo – não no sentido de violência física, mas de transgressão – para a sociedade? Ela trabalha no lixão e diz gostar de sua vida. Sem dúvida é transgressão gostar de trabalhar no lixão. Trabalhar no lixão pode e é necessário, gostar não. Mas não o suficiente para o Estado sujar as mãos. Embora o lixão não fique longe das cidades pergunte quantas pessoas já foram a um começando por você. O lixão funciona como os vazios do campo onde a loucura transgressora não pode contaminar nada além de tapurus, moscas varejeiras e alguns cachorros vira-latas. Loucura mesmo é o diretor disponibilizar o filme de Estamira na Internet ao alcance do grande público tornando-a uma louca do tipo AB.
Então o que eu queria guardar de Estamira é o fato dela ter forçado a revisão do termo de visibilidade (v) no Fator de Imprevisibilidade. Apesar de sua distância dos olhos da sociedade, a voz de Estamira foi longe. Em linguagem coloquial ela não é ninguém. Mas é uma pessoa que decidiu romper com o contrato social. Com certeza a voz de Cristo foi muito mais longe que a de Estamira. Mas é fácil dizer isso mais de dois mil anos depois e constatar que o símbolo mais famoso do mundo é a cruz. O ineditismo de Estamira está em promover os novos instrumentos de comunicação como a Internet, a níveis exorbitantes dentro do termo de visibilidade, que permanecia praticamente inalterado desde que os apóstolos de Cristo começaram a pregar. O cálculo do Fator de Imprevisibilidade se dá por f(i) = h.T, tal que , sendo 1 ≥ i ≥ 0, onde h é o ser humano/cidadão compreendido como: potencial de Transgressão (π) dividido pelo status social resultante (S) somado a 1 mais a influência do país (p), e T é a Transgressão calculada em danos materiais (m) multiplicado por sua visibilidade (v), pelo seu impacto no imaginário (i) e por dez elevado a menos cinqüenta e três, ou seja:
O cálculo do Fator de Imprevisibilidade é de difícil aplicação porque embora cada corpo da sociedade ocidental opere de forma bastante similar, as suas especificações por mínimas que sejam, ocorrendo num período de vinte a trinta anos, podem alterar completamente seu resultado e isso sem levar em conta seu próprio fator de imprevisibilidade, o Hiato, que comentarei depois.
Em h a singularidade de π representa o potencial de Transgressão. A constante ficou famosa por meio do matemático grego Arquimedes, embora sua história possa ser encontrada muito antes em ruínas deixadas por povos na América pré-colombiana e no Egito. Apesar de π ser o símbolo maior dos números irracionais, a história de como se deu sua aplicabilidade para exprimir a subjetividade humana permanece um grande mistério.
Já o status social s depende da situação econômica do país. Obtêm-se por 1 divido pelo módulo da diferença entre status final e status inicial mais 1. No qual, quanto mais perto o resultado for de 1, maior a probabilidade de Transgressão. Por isso, temos que o maior potencial de Transgressão (π) se dá quando o status social resultante é igual a um. Um exemplo típico seria a situação do cidadão japonês. Em uma economia deflacionária como a japonesa, provavelmente o status social resultante (S) é próximo de 1, isto é, tem variação mínima. As conseqüências disto, é que em uma economia com tão elevado grau de estabilidade, o cidadão japonês apresentará um alto índice de Transgressão, razão pela qual é no Japão que se registram as maiores taxas de suicídio do mundo. O risco suicida é uma espécie de Transgressão que pode ser aferida por S. Conclui-se que o homem no Fator de Imprevisibilidade foi reduzido a um número de expectativas econômicas, logo, turbulências dessa eventualidade são catastróficas para o homem, uma vez que sua imprevisibilidade está diretamente ligada a essas expectativas.
A influência do país p está atrelada às suas reservas internacionais em dólar e seu aparato militar e dificilmente sofre alterações dentro do prazo de validade de f(i) que é em média, por exemplo, na América do Sul, de vinte anos.
Os danos materiais m da Transgressão são tabelados e variam muito pouco entre os países ocidentais. Já o impacto no imaginário i tem variação de zero a um, raramente ultrapassando os 0,0000000000000000000000000000000000000000000000000000000 0000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000001.
Mas é da visibilidade dos atos transgressores, o v, a parte mais interessante da equação. Revoluções como a imprensa, o telégrafo, o telefone e principalmente a televisão deixaram suas marcas, mas nada se comparado a Internet. A mídia televisiva e impressa costumeiramente é depois do Estado e da Igreja, a mais fiel das fiadoras do contrato social. Sem dúvida sua participação mais subversiva foi na Revolução Francesa quando incitou por meio de Marat a população a ir às ruas. Ambos telegrafo e telefone pouco contribuíram à transgressão, uma vez que suas comunicações se davam em âmbito particular. A internet embora tenha sua parte privada nos e-mails não tem limites quando se trata de comunicação na sociedade liberal ocidental.
A Internet nasceu do Fator de Imprevisibilidade de um grupo de cientistas do CERN que, preocupados em construir uma ferramenta que possibilitasse o envio de informações em conjunto mais rápido, mais eficiente e em maior quantidade do que o telefone e o telegrafo, acabaram desenvolvendo um Hiato. Não havia regulamentação para a Internet e como toda boa imprevisibilidade seus efeitos antecederam a velocidade com que podiam calculá-la. O fato de poder baixar uma música famosa sem pagar direitos autorais é sem dúvida um dos fatos mais inesperados da História. Está em xeque agora um das mais caras cláusulas do Contrato Social dos Homens Ocidentais. A primeira, a que discorre a respeito do direito à propriedade. Discutir não é problema, os marxistas discutem o tempo todo o direito a propriedade. É o fato da Internet ser acessível a qualquer mortal com um computador, atrelada à irrefreável sede de vender computadores e ao ideal da sociedade liberal ocidental de direito a liberdade de informação, que a tornou um problema, uma grande e incomodo problema, crescendo dentro de um Hiato e quando percebida as implicações de sua imensa visibilidade, já estar fora de controle. Pelo menos por enquanto.
O v tomou uma dimensão imprevisível dentro do Fator de Imprevisibilidade. Antes ele era calculado pelo número de vezes que tais e tais palavras eram repetidas nos meios de comunicação. Trabalho tão árduo que nem mesmo os computadores mais modernos em 1990 eram capazes de processar, o que levou dezenas de homens à beira da loucura como o famoso matemático estadunidense ganhador do Nobel, John Nash. Hoje, a ferramenta Google é capaz de fazer uma busca de palavras com centenas de terabytes em inacreditáveis 0,0056 segundos. A Internet pôs no computador de cada um o luxo de possuir o seu Personal John Nash. Um segredo de Estado bem diante de seus olhos quando você vê os assuntos mais comentados da semana no Yahoo. Quem não se lembrará das reverberações da campanha CALA BOCA GALVÃO que ficou por vários dias no topo da lista dos toptrenddings do Twitter, sendo noticiado até por um jornal de grande prestígio como o New York Times? Quantos não ficaram surpresos com a assustadora dimensão tomada por uma brincadeira de brasileiros cansados da fanfarronice de um personagem do folclore futebolístico nacional?
Essa é uma questão que evoca outra de extrema importância que acredito ser impossível de previsão embora o fator de imprevisibilidade dessa afirmação diga o contrário. É o Hiato ou Fator de Imprevisibilidade Absoluta H. O Hiato numa simplificação grotesca é um vácuo de poder. É isso. É uma resposta sem resposta. Como lugar de “não-poder”, tudo que não estiver explícito certamente constará no Hiato. O esboço da equação mais simples seria f(H) = CENSURADO multiplicado pela raiz do desvio padrão do IDH real dos países ocidentais mais a soma das influências desses países multiplicado por (mvi). Tantas diferenças e significados e variantes infinitas que seria bem mais fácil calcular o tamanho exato do Universo com uma fita métrica.
O Fator de Imprevisibilidade então é uma loucura uma vez que é impossível calcular H? Loucura é descobrir um dia, nunca se sabe o qual, que você tinha assinado um contrato quando ainda estava sacolejando em uma espécie de bolsa, respirando um líquido viscoso de dentro de sua mãe. Na verdade no exato momento em que o maldito Y fecundou o X. Quão ridícula são essas categorias? O quão louco é a idéia de contrato social? O quão incrivelmente louco é aceitar essa idéia antes mesmo de podermos compreender suas implicações? O quão absurdamente louco eu sou por dizer essas coisas e mais ainda por vocês estarem lendo isso e o mais inacreditável, de alguns estarem começando a entender. Há nessa compreensão um sabor de liberdade. Aquela sensação curiosa de participar de um clube exclusivo, um clube secreto e que possui algo destruidor sendo compartilhado por seus membros. E que só podem comentar entre si para que os homens que não conseguem compreender (ou seria aceitar?) seu significado não os matem nem os maltratem, porque eles farão o mesmo que os homens na caverna de Platão ao verem um dos seus regressar dizendo ter visto a luz do mundo lá fora. Porque é melhor estar ao aconchego das sólidas paredes da caverna a se arriscar no desconhecido. Porque tal mundo não existe, é loucura pensar nele. Que tipo de bobagem seria luz?
Tirar autonomia do fazer, engessar o ser humano a funções mecânicas, um imperceptível modo redutor do fator de imprevisibilidade. Contraditoriamente pode te levar a loucura uma vez que força a subjetividade a permanecer estável. É, nossa sociedade está ficando louca. Indícios desse crescimento da loucura são os constantes aumentos no número de suicídios e da quantidade de pessoas em depressão. Agora, a caverna de Platão é imensa e cobre o mundo todo. Muitos pensam que é muito mais difícil ‘agir’ agora do que no passado. E se calam. Ficam calados por tanto tempo que esquecem que um dia seu pensamento falou. E quando ele lhe cochichar algo no ouvido, você zombará de sua infantilidade (conferir Os tsunamis da vida e a árvore da imobilidade http://wp.me/p11cq0-4S). Porque quando somos mais novos somos dados a esses devaneios, a esses sonhos bizarros de comunismos, socialismos, capitalismos, anarquismos, impressionismos. Tudo boiolismos e bundonismos. Que tipo de bobagem seria Fator de Imprevisibilidade?
Será este artigo considerado ‘agir’? Quanto terá de visibilidade? Terei eu status social suficiente para ser lembrado como Ghandi? Ou um mais modesto como São Francisco, filho de mercadores? Sei que minha Transgressão é inversamente proporcional ao meu status social. Quanto maior for a amplitude entre o status social de meu nascimento e o presente, maior será a inserção dentro da organicidade do corpo social. Ironicamente, quanto menor for o meu status social maior será o meu potencial de Transgressão (π), mas também menor será a visibilidade. Serei capaz de produzir um Hiato de minha época? Porque podemos falar como os cidadãos atenienses – embora não necessariamente seremos ouvidos – e o vácuo de poder só é percebido quando ele passa a ser preenchido. Mas será que ao anunciar o conteúdo subversivo desse texto, não estarei dando a Eles os mecanismos para fazerem valer a Última Cláusula do Contrato Social dos Homens Ocidentais? Sim.
Meu plano é me tornar um mártir tal como Jesus Cristo. Ser Filho do Homem Também certamente me ajudará na empreitada de conseguir i=1.
bill, o que ele faz? Faz história, literalmente. É, além de doido, flamenguista, mineiro, sagitariano, petista, boêmio, metaleiro, sertanejeiro, otaku, tonto, divertido y dulce… um comunista pero no mucho. Ξέρω ότι δεν ξέρω τίποτα, em outras palavras: boa noite bill!